terça-feira, 2 de outubro de 2007

Governador do DF decreta demissão do gerúndio

João Domingos, do Estadão
BRASÍLIA - Demissão como essa é raríssima, se não inédita. Mas o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), encheu-se de coragem e demitiu o gerúndio - isso mesmo, o tempo do verbo que se tornou uma praga principalmente no serviço público e nos serviços de call center - de todos os órgãos da administração pública da capital.

O inusitado decreto, que tem quatro linhas em quatro artigos, foi assinado pelo governador Arruda no dia 28, a última sexta-feira. Foi publicado nesta segunda na página 19 do Diário Oficial do Governo do Distrito Federal.

O decreto é claro logo em seu artigo primeiro: "Fica demitido o gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal". E o artigo segundo do decreto continua firme no ataque ao tempo do verbo, ligando-a à deficiência verificada no serviço público: "Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência".

Curioso, é que o texto seguiu o padrão de todos os decretos e estabeleceu, em seu artigo quarto, o lugar comum "Revogam-se as disposições em contrário". Não se tem notícia de que algum decreto anterior tenha obrigado o uso do gerúndio nas repartições do Distrito Federal.

O governador está em Nova York, atrás de verbas do Banco Mundial. Informou, por intermédio de sua assessoria, que buscou fazer uma provocação e que a idéia é atacar a burocracia dos governos.

De uns tempos para cá - principalmente pela influência da língua inglesa, que o utiliza muito - a burocracia das repartições públicas e os funcionários de call center passaram a usar e a abusar do gerúndio, desgastando-o sobremaneira.

Não há quem não tenha ouvido nestes locais locuções como "eu vou estar transferindo o senhor", "nós vamos estar providenciando", e assim por diante, sempre com muito exagero do uso do gerúndio.