domingo, 17 de fevereiro de 2008

Brasileiros buscam trabalho e euros na Guiana Francesa

Alex Rodrigues, da Agência Brasil

Macapá - Todos os dias, brasileiros deixam a capital do Amapá em direção ao norte do estado. Viajam 600 quilômetros de ônibus ou em carros particulares até chegarem a Oiapoque, de onde muitos planejam cruzar a fronteira marítima e chegar à cidade de Saint-George de L´Oyapock, na Guiana Francesa. De voadeira (pequeno barco a motor), a travessia do Rio Oiapoque dura cerca de 15 minutos.

Atraídos pelo euro – a moeda européia é utilizada no departamento ultramarino francês e bem aceita pelos comerciantes do lado brasileiro –, eles sonham em deixar para trás a pobreza e a falta de emprego. O principal destino dos que conseguem passar pela vigilância dos policiais locais e franceses é o entorno da capital, Caiena.

Deputados do estado estimam que pelo menos 40 mil brasileiros vivam na Guiana Francesa. Não apenas do Amapá, mas também paraenses, maranhenses e, em menor número, de outros estados. A estimativa, no entanto, pode estar muito abaixo da realidade, já que não há como saber o número real de brasileiros que moram e trabalham ilegalmente no país.

Ao se encontrar com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, na última terça-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os legalizados chegam a 20 mil. Muitos destes imigraram durante a década de 1960, quando o próprio governo local, necessitando de mão-de-obra para construir a base espacial de Kourou, incentivava brasileiros a irem trabalhar na construção civil.

Hoje, sem documentos, os brasileiros se sujeitam ao trabalho informal, principalmente nos garimpos clandestinos. Para as mulheres, há, na melhor das hipóteses, o trabalho na casa de famílias guianenses. No pior dos casos, a prostituição.

Em abril de 2007, três deputados que integram a Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Amapá foram a Oiapoque a fim de apurar as denúncias de abusos cometidos por policiais franceses e guianenses, na tentativa de impedir a entrada ilegal de brasileiros no território francês pelo Rio Oiapoque.

Além de maus tratos contra catraieiros – os pilotos das lanchas que transportam cargas e pessoas de um lado para outro da fronteira –, os parlamentares colheram histórias que indicam que jovens são arregimentadas em Macapá e cidades do interior para se prostituírem em Caiena.

Atual presidente da Comissão, o deputado estadual Paulo José (PR) disse que a imigração, mesmo ilegal, gera recursos investidos no estado pelas famílias de imigrantes, que enviam parte do que ganham. Os problemas sociais na fronteira, no entanto, trazem prejuízos muito maiores, afirmou.

“Além dos danos materiais e físicos, do constrangimento a que os brasileiros são submetidos quando tentam atravessar o Rio Oiapoque, vimos que o fluxo migratório tem estimulado a prostituição, o tráfico de drogas e a infecção por doenças graves”, contou o deputado, ao explicar os riscos que alguns correm para chegar à Guiana Francesa.

“Há barqueiros que conhecem bem a região e os locais das patrulhas de fronteira. Por dinheiro, eles levam as pessoas até um ponto qualquer, de noite, e muitas vezes as deixam escondidas com água pela cintura. As pessoas ficam ali, segurando uma sacola com os poucos pertences sobre a cabeça, até terem certeza de que não há policiais por perto e que podem sair e se embrenhar no mato. As patrulhas descobrem os caminhos, destroem, mas as pessoas logo abrem outras trilhas”, acrescentou.

Para o deputado, a diplomacia brasileira não age para regularizar a situação: “Posso afiançar que o Itamaraty tem virado as costas para o problema da migração Amapá-Guiana Francesa. Não há ação efetiva que possa coibir ou ao menos minimizar o problema dos brasileiros”.