quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Artigo

SE EU FOSSE O LUCAS
João Silva

Uma entradinha no blog da companheira Alcinéa Cavalcante e lá está uma pesquisa interessante envolvendo o internauta eleitor. A jornalista quer saber qual é a opinião de uma faixa mais qualificada da população, das pessoas que têm computador em casa, sobre o que deveria fazer o ex-deputado Lucas Barreto no segundo turno.

Achei a idéia interessante, embora não tenha postado meu comentário, o que deixei pra fazer com calma, pensando, na madrugada, quando o silêncio nos faz ouvir direito o som, avaliar melhor o significado das palavras, pesadas e medidas. Eu gosto de escrever de madrugada, é meu horário preferido, quando a sineta não toca, a secretária não bate à porta, carros e buzinas descansam.

Menu oferecido ao leitor, contendo as perguntas quebra um pouco o convencional, porque além das alternativas óbvias, oferece uma que eu gostei muito. As perguntas formais são aquelas imagináveis: você acha que Lucas Barreto deve apoiar Camilo Capiberibe? Acha que ele deve apoiar Roberto Góes? Ou acha que deve ficar em cima do muro?

Eu acho que ele deve ir para o sítio dele pescar e só voltar no dia da eleição, como propõem a última pergunta do questionário aberto no blog da jornalista. É isso aí: Lucas de papo pro ar, gozando férias de alguns dias perto da natureza, unindo o útil ao agradável, se possível sem celular, sem internet, longe dos emissários inoportunos balbuciando cifras tentadoras.

Que deu a Lucas Barreto o resultado desta eleição? Deu muita coisa que ele não pode jogar fora assim de repente, seduzido pela emoção momentânea ou pela enxurrada de propostas, cuja aceitação poderá desfigurá-lo diante da consideração do eleitorado tendo em vista discurso de mudança, de independência do governo e da oposição, uma constância nos debates em que compareceu.

Lucas ainda precisa refletir sobre votações ilusórias; elas fazem um capitulo a parte na história da política do Amapá; políticos que obtiveram maciça votação para o Senado, por exemplo, não conseguiram se eleger vereador nem prefeito de Mazagão; outros foram conduzidos à vitória inesperada, caso de João Henrique em 2006 contra Janete Capiberibe, derrotada pelas eventualidades de um debate desastroso para a candidata do PSB, e outras coisas. Os 43 mil votos que obteve, são mesmo de Lucas Barreto ou pertencem ao empresariado, que fechou com ele ao apagar das luzes do primeiro turno?

É uma pergunta que fica em aberto. Em relação a João Capiberibe, não; seria respondível em tempo real; o líder do PSB vem demonstrando que tem voto; perdeu para Waldez em 2006, mantendo os 33% dos votos válidos, fez da mulher, Janete, a candidata à deputada federal mais votada do Amapá e do Brasil, em termos proporcionais, com 30 mil votos e, agora, manteve, com Camilo, os 33% dos votos válidos apurados na briga pela PMM. Isso é um fato.

É bom lembrar que as eleições deste ano marcam a mudança no perfil do eleitor. Quem votou em Lucas Barreto sabe que ele foi traído pelos seus companheiros da AL, depois de haver tirado a instituição de uma crise de falta de credibilidade, mas foi excluído do projeto de poder que elegeu Waldez Góes Governador do Estado, em 2006 quer eleger Roberto Góes prefeito agora, Jorge Amanajás Governador e Waldez Góes Senador da República em 2010.

Portanto, do lado direito falta espaço, camaradagem, alternativa. Pedro Paulo, vice-governador, está em rota de colisão com Jorge Amanajás (PSDB) e o grupo da Assembléia por razões que vão buscar as eleições de dois mil e dez. Problema é que Jorge quer o governo que Pedro Paulo (PP) quer também.

Na esquerda, não sei o que se passa pela cabeça da sua maior liderança, mas há até bem pouco tempo João Capiberibe queria voltar ao Senado, Cristina Almeida se eleger vereadora, Camilo prefeito e Janete Capiberibe continuar deputada federal. Resta especular sobre o que a esquerda pensa sobre a corrida para o Governo do Estado em 2010, no que vejo uma chance de composição entre PSB, de João Capiberibe, e PTB, de Lucas Barreto e Eduardo Seabra, já que a pista parece vazia de pretendentes.

Neste caso, a composição teria que ser feita já, agora, com a intenção de promover as conseqüências desejadas pelos dois lados em termos do segundo turno da eleição para a Prefeitura de Macapá, dizem especialistas olhando quadro e os seus meandros por cima das questões de cunho ideológico e partidário. São ilações que qualquer um faria, já que são factíveis, poderiam acontecer, dependendo das partes.

Mas isso é com o Lucas e é hora de ir com calma, manda a política mineira nessas ocasiões, para lembrar Tancredo e outros mineiros ilustres. Melhor mesmo é reunir pessoas que ama, pegar o caniço, botar algumas iscas naquele copo de vidro, montar naquela railux reluzente e tomar o rumo daquele lugar onde o rio faz a curva, infestado de tucunaré e pacu gordo mais que abundantes nesta época do ano...