quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Diga aí, Ray Cunha!


"Às vezes, a vida, que é só encanto, pois que é luz e roseirais, mergulha na penumbra e uma sombra densa, como céu na véspera da tempestade, escurece nossa alma e nos mata um pouco. Sabemos que o sol brilhará novamente; sabemos que degustaremos, ainda, Cerpinha enevoada defronte ao Macapá Hotel, naquela hora da tarde que já é praticamente noite, hora intermediária, os segundos preciosos em que uma mulher que queremos muito se despe e, nua, realiza nossos mais inalcançáveis sonhos. Mas um simples bilhete, com a força de uma estrela azul, tira-nos do abismo mais fundo, e nos dá asas e céu.
Estou exilado em Brasília, cidade estrangeira e anti-séptica aos micróbios da paixão, contudo, dentro do meu coração existe um relicário cheio de cheiros, sensações, sons de Macapá, meu primeiro poema, que escrevi para uma ninfeta, a casa do poeta Isnard Lima Filho, gim inglês, que bebi com Fernando Canto, o marulhar do rio Amazonas se confundindo com a circulação do sangue nos tímpanos.

Quando estou flanando, em casa, vejo fotos de telas de Olivar Cunha, leio as lombadas dos livros na prateleira da estante onde guardo Malabar, uma estrela azul e periquitos que comem manga na avenida. Além desse reduto visível, mas inexpugnável, já que o transportei também para meu relicário, sou dono de um santuário, que abre a porta para o mundo e me dá asas para a vida - o ato de criar, de escrever.

Edito um portal, www.conexaocplp.com.br, especializado na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste -, prenhe de pistas macapaenses; às vezes, tão azuis que sangram, pois recendem a mulher amazônida, com seu cheiro de maresia, rosas vermelhas colombianas, Chanel 5 e beijo na boca.

Estou exilado em Brasília, entretanto, além do portal Conexão CPLP - navio que me transporta para a dimensão da poesia -, recebi, no berço, o poder de criar, e de me encantar, com palavras. Assim é que tu me retiraste da zona cinzenta em que mergulhara minha alma, me retiraste de um momento sem luz e sem perfume, instante sem risos. Salvaste-me da fossa, que nos assalta ao menor descuido, com uma estrela azul e uma rosa vermelha.
"

Ray Cunha é macapaense, autor dos romances A Casa Amarela e O Lugar Errado, e do conto A Caça, publicados pela Editora Cejup - pedidos para www.cejup.com.br; e da coletânea Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos, edição do autor, R$ 50 – pedidos para ray.cunha@uol.com.br