domingo, 19 de abril de 2009

Artigo dominical

Bíblia e catequese

Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá


Neste segundo domingo de Páscoa teremos dois eventos importantes para os católicos, que vale a pena comentar. Em nível de Brasil ocorrerá a abertura do Ano Catequético Nacional; e na nossa Diocese o lançamento da edição da Bíblia da CNBB, comemorativa dos 60 anos da Prelazia e, hoje, Diocese de Macapá.
O primeiro Ano Catequético no Brasil foi celebrado em 1959. Muitos passos foram dados pela Igreja e, entre tantos, vale lembrar o Concílio Vaticano II. Foi depois dessa graça do Espírito Santo que começamos a chamar o “catecismo” de “catequese”. Não foi uma simples mudança de palavras, mas um novo sentido dado à formação do cristão. Ainda hoje a maioria dos católicos pensa que seja obrigação somente das crianças freqüentarem o catecismo, pela simples razão de que ainda não fizeram a Primeira Comunhão e a Crisma, sacramentos que, com o Batismo, completam a chamada Iniciação Cristã. A criança, batizada pequena, era obrigada a “estudar” o catecismo para receber os outros sacramentos. Depois disso acabava o percurso catequético. Tudo isso funcionou até a alguns anos. Hoje é mais difícil.
Vivemos numa sociedade pluralista. A todos são oferecidas opções diferentes não só religiosas, mas também de vida. Costumes mudaram. Valores como a vida, a justiça, a paz e a fraternidade, que pareciam imutáveis e “naturais”, devem ser propostos às novas gerações de forma atrativa, e devem ser motivados positivamente para não serem trocados com o prazer imediato, a esperteza nos relacionamentos e a obsessão do dinheiro, do consumo e do sucesso.
O catecismo tinha como objetivo principal a explicação da fé como uma doutrina que era suficiente ensinar, porque a família, a escola e a sociedade se encarregavam, depois, de ajudar o jovem a viver o compromisso e os costumes cristãos. Nos nossos dias a fé cristã é cada vez mais uma opção de vida consciente e motivadora da própria existência humana. Mais do que conhecer uma doutrina precisamos todos vivenciar a experiência de Jesus Cristo Caminho, Verdade e Vida. O Catecismo, agora Catequese, deve ser uma verdadeira iniciação à vida cristã. Deve transmitir ensinamentos e obrigações, mas, sobretudo, deve ajudar a chegar a uma opção de vida que faça do cristão uma pessoa exemplar e honesta como cidadão e como ser humano, independentemente da raça, cor, sexo, idade ou classe social. A Catequese tem como objetivo a vida integral da pessoa, para que sejamos cristãos sempre e não somente em algumas ocasiões alegres ou tristes da vida.
O que dizer dos sacramentos da Primeira Eucaristia e da Crisma? São os sacramentos do “início” da vida cristã e não do fim dela. É o perigo que corremos quando ainda pensamos que, após a Crisma, o católico não tenha mais nada para aprender. Não somente cada um de nós tem sempre muito a conhecer e aprofundar, como também deve começar a viver plenamente a sua participação na comunidade dando testemunho do que aprendeu com a própria vida comprometida com o bem, a justiça e a paz. É por isso que hoje falamos também de Catequese de Adultos e de Formação Permanente para todos. Um cristão católico que goste da própria fé deve procurar sempre atualizá-la. Se deixar de fazer isso, pode tornar-se um saudosista do passado; um adulto com um conhecimento e uma experiência da vida cristã de criança e adolescente. Cresceu e envelheceu no corpo, mas não no espírito. O Ano Catequético pode nos ajudar a refletir sobre a nossa maneira concreta de cuidar da formação cristã e do crescimento permanente de todos, numa busca constante de integração entre a fé e a vida de cada um. Precisamos de cristãos mais sérios e preparados, para que o nosso declarar-se católico não seja pura superficialidade.
Enfim, por ocasião dos 60 anos da Prelazia e depois Diocese de Macapá pensamos numa edição comemorativa da Bíblia da CNBB. Na prática é a Bíblia católica com a tradução oficial aprovada e recomendada pelos bispos. Na confecção do livro foi possível, combinando com a gráfica, inserir algumas páginas “personalizadas”. Nessas páginas as dioceses, ou as instituições, que encomendam as Bíblias podem colocar reflexões e fotografias de fatos e pessoas da própria história. Uma simples iniciativa que quer alcançar dois objetivos: comemorar uma data histórica da nossa Prelazia-Diocese e oferecer aos católicos uma edição da Bíblia acessível no custo e com uma tradução atualizada das sagradas escrituras. Servirá para a leitura orante da Bíblia, para os círculos bíblicos, e também – esperamos - para que as pessoas, as famílias e os grupos tenham mais amor e familiaridade com a Palavra de Deus.