quarta-feira, 10 de junho de 2009

Artigo

Marabaixo x igreja – intolerância religiosa
Rostan Martins

A pendenga entre os marabaixeiros e alguns líderes da igreja católica continua, e que já se arrasta por várias décadas, um claro exemplo de intolerância religiosa. De um lado a igreja católica declara que “não se pode misturar a água benta com o diabo” (D. Aristide Piróvano), declarando que nas manifestações do marabaixo existem manifestações profanas, que são contrárias as doutrinas do catolicismo, como o consumo de bebidas alcoólicas, danças sensuais e a utilização de músicas, etc. E com isso alguns padres proibiram os santos do marabaixo (Divino Espírito Santo e Santíssima Trindade) de estarem na igreja nos seus dias. Já os marabaixeiros alegam: que na sua origem o marabaixo sempre foi unido com a igreja; nas manifestações do marabaixo existem aspectos religiosos e que existem muitos marabaixeiros que são católicos. Danniela Ramos, presidente da Associação Folclórica Raimundo Lasdilau, declarou: “isso que a igreja está fazendo com o marabaixo é uma discriminação com a nossa cultura”.

A intolerância religiosa existe em todos os seguimentos, mas no Brasil é constatada mais no campo das religiões de matriz africana, ou as afro-brasileiras. Um mal que todos querem extinguir. O marabaixo não é uma religião, é um folclore, mas, na sua criação, incorporou aspectos religiosos identificados com o catolicismo. Os negros cultuavam os seus santos e para disfarçarem e não serem perseguidos cultuavam os santos dos brancos. Mesmo assim existem no marabaixo as ladainhas, as orações, oferendas, as promessas, imagens, fé, as missas e os dias de cultos aos Santos. A festa do Divino Espírito Santos tem origens eminentemente religiosas. (Brandão, 1978).

A intolerância religiosa é caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar as diferenças ou crenças religiosas das outras pessoas. Como fezeram: D. Aristide Pirovano; Padre Júlio Maria Lombaerd (combateu o marabaixo publicamente, chegando a quebrar a corôa de um dos santos. Ele fechava a igreja, mas os marabaixeiros ficavam os mastros na frente da igreja); cônego Teixeira (que faltou de propósito as festividaes do marabaixo); padre Geovanni Pantarolo, paróco da igreja São Benedito (que, no ciclo de 2008, aceitou os santos na igreja, mas na homilia fez declarações humilhantes aos marabaixeiros e neste ano apresentou um “cantinho” no salão da igreja); e os marabaixeiros (que invandiram a igreja, domingo, 31/05). A Constituição Federal do Brasil garante a liberdade religiosa a todo cidadão brasileiro. Isso inclui o direito de escolher uma religião e o de expressar as tradições e ritos da crença escolhida. Mas, o afronto, sobretudo do catolicismo e da Evangélica, sobre outras religiões, manifestações folclóricas e seus seguidores ainda é muito grande.

A intolerância também é verificada de ambas as partes. Em anos anteriores “o povo se revoltou e quis invadir a casa do Pe. Júlio” um embate que teve facas, rifles, cacetes, de ambos os lados (Canto, 1998). Nos últimos dias a pendenga se acirrou ainda mais. O padre Pantarolo, diante de uma solicitação do marabaixo do Laguinho de levar o Divino Espírito Santo para a igreja na véspera do seu dia e a solicitação de uma missa, determinou um “cantinho” no salão da igreja para o santo, justificando que naquele dia seria um dia especial, a coroação de Maria. O que os líderes do marabaixo entenderam ser uma discriminação, queriam um lugar no altar. Não aceitaram e prometeram protestar.

O protesto é válido e é um direito, o que se tornou intolerância, da parte dos marabaixeiros, foi invadir a igreja no momento de uma missa e atrapalhar o seu ritual.

Atualmente essa pendenga é verificada somente com o marabaixo do Laguinho, visto que com o marabaixo da Favela o padre até vai aos barracos realizar os atos religiosos da manifestação.