terça-feira, 21 de julho de 2009

Peripécias do Gilvam

Tá na Folha de S.Paulo:

"Senador Gilvam Borges paga fábrica com verba indenizatória

Rubens Valente, enviado especial a Macapá

Silvio Navarro, do Painel

O senador Gilvam Borges (PMDB-AP), afilhado político do senador José Sarney (PMDB-AP) e com assento no Conselho de Ética do Senado, destina toda a sua cota da verba indenizatória de R$ 15 mil mensais para alugar uma fábrica de toldos na periferia de Macapá. O dono da microempresa é filiado ao PMDB, partido presidido por Gilvam no Estado.
Gilvam informa todo mês ao Senado que a verba custeia o "aluguel de imóveis para escritório político, compreendendo despesas concernentes a ele".
O reembolso dos R$ 15 mil é feito mediante a apresentação de um único recibo, emitido pelo técnico em edificações José Emílio Silva dos Santos.
Por ordem de Gilvam, desde janeiro o Senado destinou R$ 90 mil à conta bancária de Santos. Em 2008, depósitos no mesmo valor autorizados por Gilvam somaram R$ 180 mil.
A Folha localizou em Macapá, na semana passada, o responsável pelo aluguel. Santos é o proprietário da uma pequena fábrica chamada Paratoldo.
Trata-se de um sobrado na periferia de Macapá sem indicação de que se trate de um escritório político. No térreo funciona a fábrica -estava funcionando nas duas vezes em que a reportagem esteve no local.
A Paratoldo contribuiu, em 2006, com R$ 2.300 para o comitê financeiro único do PMDB no Amapá. O comitê ajudou a reeleger Sarney.
Santos alegou à Folha que aluga salas para "reuniões políticas" do senador que, segundo ele, ocorreriam "toda semana", no segundo andar da empresa.
Ele admitiu que assina os recibos como aluguel e outras despesas, mas afirmou que, na prática, o dinheiro é também usado como uma espécie de salário para bancar viagens que faz com o senador pelo Estado.
Os gastos do prédio com energia teriam ficado entre R$ 3.600 e R$ 3.800 no mês passado. Santos contou ainda que, com o dinheiro, também "terceiriza" serviços, contratando funcionários para o senador.
Nos últimos dias, a Folha tentou falar com Gilvam em Macapá e em Brasília, mas ele não foi localizado. Ontem, sua assessoria disse que ele estava incomunicável no interior do Estado em evento da Caixa.
Questionada sobre o aluguel do "escritório" em Macapá, a assessoria informou que o senador "arredonda" o valor e que a despesa se encaixa na rubrica da verba indenizatória.
A portaria que instituiu a verba -assinada em 2003 pelo então presidente do Senado, Ramez Tebet (1936-2006)- prevê a possibilidade de gasto com aluguel de imóvel, mas só daquele "destinado à instalação de escritório de apoio à atividade parlamentar".
O dinheiro pode ser usado para "as despesas da locação, da taxa de condomínio, das contas de água, de telefone e de energia elétrica, e com o IPTU concernente ao imóvel locado".
Na semana passada, o mercado imobiliário de Macapá, com 359 mil habitantes, não tinha nenhum prédio com aluguel de R$ 15 mil mensais.
Nos anúncios classificados divulgados pelos jornais, uma casa com dois andares, duas suítes, garagem para seis carros, dois portões eletrônicos, piscina e churrasqueira era alugada por R$ 2.500.
Em Macapá, Gilvam controla pelo menos dois amplos prédios, as sedes da rádio Antena 1 FM e da TV Tucuju (Rede TV!), que pertencem à sua família. Segundo políticos ouvidos pela Folha, Gilvam faz suas reuniões políticas na sede da rádio, à beira do rio Amazonas.